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sábado, 27 de novembro de 2010

Pavor em Barão de Guaipi - Parte 4

PARTE 4
Quando saiu do banho, Liliam sentou-se no sofá da sala junto de sua filha que assistia aos backyardigans paralisada. Depois de algum tempo ouviu a porta da sala se abrir. Era Matheus, seu esposo, que estava chegando de mais um cansativo dia de trabalho.
Matheus era professor na universidade em uma cidade vizinha. Era um cara muito bom, estava ajudando a todos sempre que podia. Amava muito sua filha e era loucamente apaixonado por sua esposa. A faculdade pelo qual ele trabalhava não o pagava lá os melhores salários, mas mesmo assim, parecia que ele era o cara mais feliz do mundo.
Ao entrar em casa, já foi recepcionado por um grande abraço de Júlia, que todos os dias ficava ali sentadinha no sofá, esperando seu querido pai entrar pela porta:
- Papai! – Disse a menina muito eufórica.
- Olá, minha princesinha! Tem novidades?
- Tenho sim! Hoje na escola, eu aprendi a tabuada de três! Conheci também uma amiga da mamãe.
- É mesmo! Qual era o nome dela?
- Ela não disse, mas era uma moça muito legal! Ela usa roupa de rainha!
Matheus não sabia de quem sua filha estava falando. Virou-se para sua esposa, lhe deu um beijo, e perguntou:
- Quem era querida? Essa sua  amiga que usa roupa de rainha?
Liliam olhou séria para seu marido e disse:
- Eu não sei. Eu preciso te contar isso.
Ao perceber a expressão da mulher, Matheus sabia que se tratava de um assunto bastante sério.
- Vamos para a cozinha. – Disse ele sem perguntar mais nada.
Liliam virou-se para Júlia e disse:
- A mamãe e o papai precisam conversar uma coisa lá na cozinha. Fique aqui quietinha que a gente já volta, ta?
- Ta bom! – Respondeu a pequena menina.
Os dois foram para a cozinha. Matheus estava um pouco ansioso para saber o que sua esposa tinha para lhe contar, ele a conhecia muito bem e sabia que o que vinha dela seria algo bastante sério.
Ao chegarem à cozinha, sentaram à mesa. Matheus sem esperar logo a perguntou:
- Mas o que houve de tão sério?
- Eu não sei, mas acho que Júlia está vendo coisas.
- Como assim?
- Hoje, quando fui buscá-la na escola, paramos em uma carrocinha para comprarmos algodão doce. Quando me distraí apenas procurando minha carteira dentro da bolsa, Júlia estava do outro lado da rua. Em frente à velha mansão do barão, sozinha, bem ali, e me parecia que estava olhando fixamente para algo que só ela estava vendo.
- Ah meu bem, mas isso...
-  Não! Apenas ouça. Quando a vi, a chamei. Ela atravessou a rua e veio até mim. Fomos embora pra casa. O que mais me espantou foi quando chagamos em casa, deixei Júlia na sala só por um instante e fui ao quarto pegar roupas para tomar banho. Mas quando desci, ela não estava mais na sala. A procurei pela casa e a encontrei na cozinha. Ela estava conversando com alguma coisa que estava na janela da porta. Perguntei a ela com quem ela estava falando, e ela me respondeu que era com uma amiga minha. Assustei-me porque eu tinha certeza de que não havia ninguém ali. E ela falava com uma certa segurança... Ai meu bem! Não sei, mas acho que nossa filha está vendo coisas.
- Querida, não deve se preocupar tanto! Isso é coisa da mente dela. Eu mesmo tinha um amigo imaginário quando criança. Isso é coisa da idade. Logo logo isso vai  acaba, você vai ver.
- Poderia ser, mas e se não fosse? E se ela estivesse vendo espíritos? O que faremos para revolver isso?
- Não podemos tomar decisões precipitadas. Tenho certeza que isso não vai durar muito. Vamos voltar pra sala!
Quando voltaram, Júlia estava lá esperando por eles, de pé. Olhou nos olhos da mãe e disse:
- Mamãe, a Tia Izabel disse que vai ficar muito zangada se você continuar dizendo que ela não existe.
Liliam gelou. Mas tentou manter o máximo de controle daquela situação:
- Quem é tia Izabel, meu amor?
- Querida, se você quer que isso acabe, não deve alimentar a imaginação dela. Deixa isso comigo. – Disse Matheus calmamente. Virou se para Júlia. – Meu bem, não é bonito para uma criança ouvir as conversas dos adultos.
- Mas papai, eu não estava ouvindo. Eu fiquei bem aqui, como a mamãe mandou.
- Você também sabe que é muito feio mentir. Se continuar fazendo isso teremos que te colocar de castigo.
- Mas é sério papai! A tia Izabel disse. É verdade! Não é tia?
Liliam não se agüentou, tomou a frente do marido e falou severamente com a menina:
- Júlia! Essa tia Izabel não existe mesmo! Pare de fantasiar! Ela não existe Júlia! Não existe!
Neste momento, as feições de Júlia começaram a mudar. De um olhar doce de menina estava se transformando em um olhar de ira. Olhou fixamente para a mãe como se não a conhecesse mais.
Liliam se assustou ao ver aquele olhar tão tenebroso vindo da uma menininha. Mas mesmo assim continuou falando com ela:
- É sério mocinha! Se você não parar com isso, vou ter que tomar uma atitude que eu não quero!
A menina continuava a olhando. Estava com um leve sorriso no canto da boca. Não respondia nada. Ficava apenas ali, olhando para os dois com um olhar sinistro no rosto.
Matheus decidiu falar desta vez, conhecia que sua esposa estava bastante nervosa, afinal Júlia nunca os faltara com respeito:
- Meu bem! Não fique zangada com a mamãe. É que essa tia Izabel, só existe na sua imaginação! Ela...
A menina o interrompeu dizendo:
- Ouçam vocês dois! Pensam que podem tirar ela de mim? Ela é minha! E se acham que eu não existo mesmo, posso provar a vocês o contrário. – A menina estava séria, parecia que nem era ela que estava falando. Pois aquela voz não era de uma menina de sete anos.
A seguir, Júlia teve desmaio no chão da sala. Seus pais correram para socorre­-la desesperados. Matheus sacudia sua filha a chamando pelo nome, mas ela estava completamente desacordada.

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