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sábado, 27 de novembro de 2010

Pavor em Barão de Guaipi - Parte 4

PARTE 4
Quando saiu do banho, Liliam sentou-se no sofá da sala junto de sua filha que assistia aos backyardigans paralisada. Depois de algum tempo ouviu a porta da sala se abrir. Era Matheus, seu esposo, que estava chegando de mais um cansativo dia de trabalho.
Matheus era professor na universidade em uma cidade vizinha. Era um cara muito bom, estava ajudando a todos sempre que podia. Amava muito sua filha e era loucamente apaixonado por sua esposa. A faculdade pelo qual ele trabalhava não o pagava lá os melhores salários, mas mesmo assim, parecia que ele era o cara mais feliz do mundo.
Ao entrar em casa, já foi recepcionado por um grande abraço de Júlia, que todos os dias ficava ali sentadinha no sofá, esperando seu querido pai entrar pela porta:
- Papai! – Disse a menina muito eufórica.
- Olá, minha princesinha! Tem novidades?
- Tenho sim! Hoje na escola, eu aprendi a tabuada de três! Conheci também uma amiga da mamãe.
- É mesmo! Qual era o nome dela?
- Ela não disse, mas era uma moça muito legal! Ela usa roupa de rainha!
Matheus não sabia de quem sua filha estava falando. Virou-se para sua esposa, lhe deu um beijo, e perguntou:
- Quem era querida? Essa sua  amiga que usa roupa de rainha?
Liliam olhou séria para seu marido e disse:
- Eu não sei. Eu preciso te contar isso.
Ao perceber a expressão da mulher, Matheus sabia que se tratava de um assunto bastante sério.
- Vamos para a cozinha. – Disse ele sem perguntar mais nada.
Liliam virou-se para Júlia e disse:
- A mamãe e o papai precisam conversar uma coisa lá na cozinha. Fique aqui quietinha que a gente já volta, ta?
- Ta bom! – Respondeu a pequena menina.
Os dois foram para a cozinha. Matheus estava um pouco ansioso para saber o que sua esposa tinha para lhe contar, ele a conhecia muito bem e sabia que o que vinha dela seria algo bastante sério.
Ao chegarem à cozinha, sentaram à mesa. Matheus sem esperar logo a perguntou:
- Mas o que houve de tão sério?
- Eu não sei, mas acho que Júlia está vendo coisas.
- Como assim?
- Hoje, quando fui buscá-la na escola, paramos em uma carrocinha para comprarmos algodão doce. Quando me distraí apenas procurando minha carteira dentro da bolsa, Júlia estava do outro lado da rua. Em frente à velha mansão do barão, sozinha, bem ali, e me parecia que estava olhando fixamente para algo que só ela estava vendo.
- Ah meu bem, mas isso...
-  Não! Apenas ouça. Quando a vi, a chamei. Ela atravessou a rua e veio até mim. Fomos embora pra casa. O que mais me espantou foi quando chagamos em casa, deixei Júlia na sala só por um instante e fui ao quarto pegar roupas para tomar banho. Mas quando desci, ela não estava mais na sala. A procurei pela casa e a encontrei na cozinha. Ela estava conversando com alguma coisa que estava na janela da porta. Perguntei a ela com quem ela estava falando, e ela me respondeu que era com uma amiga minha. Assustei-me porque eu tinha certeza de que não havia ninguém ali. E ela falava com uma certa segurança... Ai meu bem! Não sei, mas acho que nossa filha está vendo coisas.
- Querida, não deve se preocupar tanto! Isso é coisa da mente dela. Eu mesmo tinha um amigo imaginário quando criança. Isso é coisa da idade. Logo logo isso vai  acaba, você vai ver.
- Poderia ser, mas e se não fosse? E se ela estivesse vendo espíritos? O que faremos para revolver isso?
- Não podemos tomar decisões precipitadas. Tenho certeza que isso não vai durar muito. Vamos voltar pra sala!
Quando voltaram, Júlia estava lá esperando por eles, de pé. Olhou nos olhos da mãe e disse:
- Mamãe, a Tia Izabel disse que vai ficar muito zangada se você continuar dizendo que ela não existe.
Liliam gelou. Mas tentou manter o máximo de controle daquela situação:
- Quem é tia Izabel, meu amor?
- Querida, se você quer que isso acabe, não deve alimentar a imaginação dela. Deixa isso comigo. – Disse Matheus calmamente. Virou se para Júlia. – Meu bem, não é bonito para uma criança ouvir as conversas dos adultos.
- Mas papai, eu não estava ouvindo. Eu fiquei bem aqui, como a mamãe mandou.
- Você também sabe que é muito feio mentir. Se continuar fazendo isso teremos que te colocar de castigo.
- Mas é sério papai! A tia Izabel disse. É verdade! Não é tia?
Liliam não se agüentou, tomou a frente do marido e falou severamente com a menina:
- Júlia! Essa tia Izabel não existe mesmo! Pare de fantasiar! Ela não existe Júlia! Não existe!
Neste momento, as feições de Júlia começaram a mudar. De um olhar doce de menina estava se transformando em um olhar de ira. Olhou fixamente para a mãe como se não a conhecesse mais.
Liliam se assustou ao ver aquele olhar tão tenebroso vindo da uma menininha. Mas mesmo assim continuou falando com ela:
- É sério mocinha! Se você não parar com isso, vou ter que tomar uma atitude que eu não quero!
A menina continuava a olhando. Estava com um leve sorriso no canto da boca. Não respondia nada. Ficava apenas ali, olhando para os dois com um olhar sinistro no rosto.
Matheus decidiu falar desta vez, conhecia que sua esposa estava bastante nervosa, afinal Júlia nunca os faltara com respeito:
- Meu bem! Não fique zangada com a mamãe. É que essa tia Izabel, só existe na sua imaginação! Ela...
A menina o interrompeu dizendo:
- Ouçam vocês dois! Pensam que podem tirar ela de mim? Ela é minha! E se acham que eu não existo mesmo, posso provar a vocês o contrário. – A menina estava séria, parecia que nem era ela que estava falando. Pois aquela voz não era de uma menina de sete anos.
A seguir, Júlia teve desmaio no chão da sala. Seus pais correram para socorre­-la desesperados. Matheus sacudia sua filha a chamando pelo nome, mas ela estava completamente desacordada.

domingo, 31 de outubro de 2010

Pavor em Barão de Guaipi - Parte 3

Liliam achou bem estranho ver a sua filha conversando sozinha, ela podia jurar que não havia ninguém ali com Júlia. Resolveu deixar pra lá, assim pensou: “Coisa de criança”.
Seguiu direto pra casa, não estava muito distante. Júlia também não mencionou nada a respeito daquela moça que havia visto, afinal achava que era normal estar falando com uma amiga de sua mãe. Liliam, por sua vez,  apenas observava sua pequena menina saborear aquele enorme algodão doce.
Ao entrar em casa, Júlia foi direto para a TV. Enquanto Liliam foi verificar o seu e-mail, afinal estava aguardando alguma resposta de Monique. Abriu sua caixa de entrada, e nada. “Talvez  Monique não tenha tempo nem de acessar a internet.” Pensou Liliam. Mas no fundo estava um pouco chateada com o fato de nunca mais conseguir falar com a velha amiga.
Verificou outros e-mails recebidos, e entre eles um a chamou a atenção. No título estava escrito: “Uma surpresa pra você!” ficou curiosa e abriu a mensagem. Nela estava escrito:
Minha querida amiga, Liliam
Sei que já faz um tempo, mas nunca me esqueci de você e nem de ninguém que fazia parte da galera. Gostaria muito de revê-los. Não posso lhe falar onde eu estive este tempo todo, mas posso lhe assegurar que estou muito bem. O que aconteceu naquela época já ficou apagado, assim acredito. Mas o trauma que sofri foi tão grande, que eu nunca tive coragem de voltar. Sempre mantive contato com os meus pais, pedi muito a eles para que não falassem a ninguém onde eu estava. Na verdade, eles sabiam o tempo todo que eu não estava desaparecido.
Soube que fará uma festa e quer reunir a galera toda de novo. Acho que seria uma ótima oportunidade de eu fazer uma surpresa a todos. Contar todas as coisas que fiz durante todo esse tempo.
Tenho também uma proposta a lhe fazer. Você se lembra da casa antiga do Barão de Guaipi? Aquela no bairro Íris. Então, sou proprietário de lá agora. Estarei na cidade no sábado para estar tratando de negócios. A casa está em perfeito estado, por incrível que pareça. Precisa de algumas reformas, muito poucas, embora seja uma casa bastante antiga, ela está bem conservada. Gostaria de lhe propor que faça a sua festa lá. Tem bastante espaço e a galera ia adorar. Sem contar que não posso ficar circulando muito pelas ruas aí, afinal, ainda sou aquele garoto desaparecido de 16 anos. Por isso pretendo aparecer somente na festa. Não comente nada com ninguém sobre mim, vou surpreender a todos. Vou mandar destrancarem os cadeados e portas no sábado de manhã para que você possa estar arrumando o local do seu jeito. Não conseguirei chegar antes das 22hs, a viagem é bem longa, mas estarei lá para a festa.
Um grande abraço de seu velho amigo,
Thiago
Quando acabou de ler, Liliam ficou chocada, parada em frente ao computador sem ação. Não sabia se ficava feliz por ter recebido notícias do amigo ou se ficava com raiva dele não ter dado notícias durante todo esse tempo, sua cabeça estava bastante confusa. Além disso, os preparativos de sua festa já estavam todos concluídos e mudar o local da festa estava fora de cogitação, até o momento.
Por outro lado, a emoção de saber de Thiago era  bem agradável e Liliam já conseguia sentir uma pontinha de ansiedade de ver como ele estava. Queria saber se estava mais gordo, mais magro, mais alto, se estava casado, se tinha filhos...
Fechou seu e-mail e foi tomar um banho, enquanto Júlia se divertia assistindo a um canal infantil da TV a cabo:
- Mamãe vai tomar um banho. Fique aqui quietinha, tá?
Júlia nem olhou, continuou vidrada com os bonequinhos que cantavam e dançavam na tela da televisão. Apenas acenou que sim.
Liliam sorriu, achou engraçadinho ver sua bonequinha tão distraída cantando e dançando junto da turminha que via na TV. Saiu de lá, foi para o quarto pegar suas roupas e se direcionou ao banheiro. Ao passar novamente pela sala, viu que sua filha não estava mais lá.
Procurou pela casa chamando pelo nome da menina, mas não havia resposta. Atravessou a sala e foi para a cozinha, foi quando viu Júlia na porta dos fundos falando com alguém pelo vidro da porta:
- Sim .... Tenho sete... É ... Ahã ...
- Com quem você está falando meu bem?
Júlia se virou e respondeu normalmente:
- Com ela, mamãe!
Mas quando a menina se virou para mostrar com quem ela estava falando, a pessoa que estava ali havia sumido. Júlia voltou novamente para sua mãe com um olhar meio que triste:
- Ela foi embora.
- Quem foi embora querida? Não tinha ninguém na porta.
- Tinha sim, mãe! Aquela moça que estava falando comigo quando fomos comprar algodão doce, lembra?
- Meu amor, você não estava falando com ninguém.
- Estava, mãe! Ela disse que era até sua amiga!
- Bom, chega de brincadeiras!
- Mas eu não to brincando!
- Está sim, não pode ficar fantasiando coisas o tempo todo, minha flor.
- Mas...
- Já chega! Volte para o sofá e não saia mais de lá até eu sair do banho.
Júlia foi para a sala meio chateada com sua mãe por ela não ter acreditado no que havia falado. Mas Liliam sabia que nessas horas tinha que ser um pouco dura, pois se alimentasse isso em Júlia não saberia quando isso iria parar. Quando viu sua filha falando sozinha da primeira vez, achou até normal. Mas agora, sabia que era algo que teria que acabar.
Liliam apagou as luzes da cozinha e foi para o banho. Enquanto saía, a figura da mulher apareceu no vidro da porta observando-a.  Ela a fitava com certo olhar misterioso que misturava ironia e ódio. Poucos instantes depois, a mulher desapareceu deixando a vista apenas o gramado do quintal dos fundos.
No banho Liliam pensava no que havia acabado de acontecer: “E se Júlia realmente estivesse conversando com alguém? Alguém que apenas ela pudesse ver?” Estava um pouco insegura em relação a isso, pois se a menina estivesse realmente falando com fantasmas, não saberia que atitude deveria ser tomada e nem a quem recorrer para pedir ajuda.
Pensava também em Thiago, não seria tão difícil se aceitasse a sua proposta e do mais todos iriam se amarrar em ir a uma festa em uma velha mansão luxuosa. Portanto seria um assunto a ser repensado quando estivesse com a cabeça mais fresca.

domingo, 24 de outubro de 2010

Pavor em Barão de Guaipi - Parte 2

Era uma tarde de outono, quinze anos já havia se passado desde o desaparecimento de Thiago. A polícia não havia conseguido resolver nada, pois naquela noite, por estar muito frio, todos haviam se recolhido mais cedo. Portanto, as ruas estavam totalmente desertas e assim ninguém havia visto o menino minutos antes de seu suposto sumiço. Alguns diziam que fora um seqüestro, mas os seqüestradores nunca entraram em contato. Outros já achavam que o menino havia fugido de casa, pois coisas desse tipo acontecem bastante com adolescentes, mas o menino não tinha motivo pra fazer isto. Seus pais esperavam que ele fosse entrar pela porta da frente, ou a dos fundos, a qualquer momento. Mesmo depois de quinze anos,  principalmente depois que Vanda se casou e eles voltaram a ser aquele solitário casal. Só que desta vez não era como a época em que eram recém casados, desta vez toda aquela alegria de estar ao lado da pessoa que ama havia se convertido em uma tristeza profunda, pois quem eles mais amavam nunca voltara pra casa.
A galera ficou em choque quando soube do caso. Principalmente Dayana, depois que a mãe de Thiago lhe entregou uma carta que ele nunca havia tomado coragem para lhe dar. Na carta ele dizia toda a sua paixão secreta pela linda menina com traços orientais.
Depois do ocorrido, ninguém, e volto a dizer, absolutamente ninguém ficava nas ruas até tarde. As crianças daquela época eram acompanhadas de seus pais ou de um responsável, mesmo de dia, para evitar mais um caso de desaparecimento. Até mesmo a galera parou de se ver, tentaram se reunir mais umas quatro ou cinco vezes. Mas não dáva, todos se lembravam de Thiago, alguns até choravam. Pois sabiam que não era mais a mesma coisa sem a presença do velho amigo. Depois disso, cada um seguiu seu rumo e quando se encontravam se cumprimentavam apenas com um frio oi.
Os únicos que continuaram a se ver foram Liliam e Matheus. Que começaram a namorar depois de um tempo. Seis anos depois se casaram. Dois anos após o casamento, nasceu Julia, sua linda filha.
Dayana agora, era proprietária de uma loja de calçados no centro da cidade. Não se casou, e havia terminado seu namoro com Roger, quando Liliam estava completando quase um ano de namoro com Matheus. Seguiu sua vida estudando marketing e era uma profissional muito bem sucedida, morava sozinha e não tinha interesse em arrumar alguém.
Roger era um advogado, casou-se com Ellen, uma simpática advogada que ele conhecera na faculdade. Não tinham filhos por que no momento não era de interesse de nenhum das partes. Estavam sempre vivendo uma lua de prolongada e com um filho eles sabiam que isso iria acabar.
Flávia havia se tornado médica e se mudou daquela cidade logo após se formar. Embora vivesse em uma cidade grande agora, ela detestava aquilo tudo e por isso estava sempre visitando seus pais que ainda viviam na cidade em que ela foi criada. Sua vida era tão agitada que não tinha tempo mais para fazer nada, contudo, ela não se casou.
Monique se tornou uma grande atriz e também se mudou de lá. Era mãe de gêmeos: Igor e Iago. Mas seu casamento com Charles não durou nem cinco anos, você sabe como esses famosos não param com ninguém. Mas para sua felicidade conheceu Pedro, um galã de novela do horário nobre.
Fernando continuava sua vida na velha cidadezinha, fazia parte agora da polícia local. Também estava já casado com Sheila, uma mulher muito autoritária que estava grávida de um menino que iria se chamar Henrique. Embora soubesse que aquele filho que estava no ventre de Sheila não era seu, Fernando estava disposto a assumir, pois amava muito sua esposa e tinha medo de perdê-la.
Rafael não teve muita sorte com o futuro. Ainda morava ali com seus pais. Estava cursando a quarta faculdade, nunca conseguiu se encontrar em um curso superior. Agora estava cursando engenharia mecânica, mas antes foram matemática, direito e fisioterapia e não chegou nem na metade de nenhum. Namorava Stella, uma moradora de seu mesmo bairro. Stella queria se casar, mas sabia que Rafael não tinha condições no momento. Somente depois da faculdade, mas não se sabe qual.
Era uma quinta-feira, e Liliam estava organizando sua festa de aniversário  que seria no próximo sábado. Estava em casa sozinha, Matheus estava trabalhando e Júlia na escola. Liliam sempre aproveitava esses momentos para colocar suas idéias em prática e organizar suas coisas. Estava mexendo em umas caixas de sapato velhas, que continham fotos de seus melhores momentos desde a infância. Pois sua idéia era fazer um mural de toda a sua vida, registrada em várias épocas.
Ao mexer em uma caixa, cuja tampa estava escrito 1995, ela se deparou com várias fotos da galera. Começou olhar foto por foto, se recordando daqueles bons momentos em que gostaria muito que voltassem. Pegou um foto sua com Thiago ao seu lado, virou no verso e estava escrito “Amigo, sentirei saudades”. Suspirou, pois isso tudo ela já havia superado. Porém não esquecido. Divertiu-se em se lembrar de como Fernando era bobo, todos zuavam da ingenuidade dele, coisa que não mudou muito. Uma foto das meninas dando língua, uma de Roger sorrindo pra foto abraçado com sua irmã Dayana que escondia a cara de vergonha, outra de todos juntos em um passeio que fizeram no zoológico, ao ver essa foto Liliam sorriu ao lembrar se de que ela teve de pedir para um mendigo batesse aquela foto para que ela pudesse sair também.
Depois de ter tantas recordações daquela época, Liliam pensou: “Por que não chamar todo mundo pra minha festa? Seria um modo de rever todos.” E assim ele fez. Entrou em contato com Dayana, sua irmã, que ainda mantinha contato com Flávia. Ligou para Flávia e ficou satisfeita ao saber que ela iria vir para a cidade no final de semana, para ver seus pais. Portanto, com Flávia já estava tudo confirmado.  Quanto a Roger, Fernando e Rafael também foi bem fácil, pois todos ainda moravam na cidade. O problema era falar com Monique, que depois que foi embora nunca mais falou com ela, eles só viam Monique pela TV e nada mais. Mesmo assim Liliam arriscou, conseguiu localizar a velha amiga em um site de relacionamento na internet, e deixou lá um recado convidando-a.
O telefone tocou, Liliam levou até um susto, pois estava sentada ao lado do aparelho. Respirou, pegou o telefone e atendeu:
- Alô?
- Alô, Sra Liliam?
- Sim.
- É da escola de sua filha, Júlia. Estamos ligando para avisar que a escola fechará em meia hora e a ninguém veio buscá-la.
- Meu Deus! Eu perdi a noção completamente da hora. Perdoem-me, já estou a caminho.
- Estamos aguardando senhora.
- Sim, Obrigada!
Ao bater o telefone, pegou apenas seu casaco, sua bolsa e foi direto para escola primária Sonho Encantado. O único problema era que teria de ir andando, pois Matheus usava o carro para trabalhar. Mas mesmo assim, isso só levaria uns quinze minutos.
Quando chegou na porta da escola a menina já estava do lado de fora  esperando por ela, segurando a mão de sua professora. Liliam abriu um sorriso ao ver sua filhinha  foi andando em sua direção:
- Olá, como foi a escola hoje?
- Bem, hoje eu aprendi a fazer a tabuada de três.
- Verdade! Depois você me conta.
Olhou para a Lúcia a professora de Júlia e disse:
- Me desculpe pelo meu atraso. Como ela está indo?
- Muito bem, é a mais esperta da sala.
- Muito bem então, já vamos indo.
- Tchau, Tia Lúcia! – disse Júlia para sua professora.
Lúcia respondeu com um sorriso nos lábios:
- Tchau, meu amor! Nos vemos amanhã né?
- Sim, nos vemos!
As duas, mãe e filha, caminhavam e conversavam bastante pelo caminho de volta pra casa. Liliam demonstrava toda a sua atenção para com a pequena Júlia. E Júlia por sua vez, se empolgava ao falar de tudo que fizera durante o dia.
Ao entrarem na Rua Barão de Guaipi, avistaram uma carrocinha que vendia algodão doce. Ao ver a carrocinha Líliam perguntou a sua filha:
- Vamos comprar algodão doce?
A menina apenas respondeu:
- Ahã!
Pararam na carrocinha para comprar o doce. Júlia de repente escuta alguém chamando pelo seu nome do outro lado da rua. Ao se virar para ver era um linda mulher: loira com os olhos azuis, usando um vestido verde e um colar de esmeraldas. A mesma mulher que Thiago havia visto na noite de seu desaparecimento.
A mulher segurava em uma das mãos um lido balão vermelho e com a outra acenava para Júlia, chamando-a com um sorriso sinistro.
A menina se desprendeu da mão de sua mãe e foi até a mulher. Atravessou a rua e andou em sua direção. A mulher desta vez apenas esperava por Júlia com os braços abertos:
- Olá, Júlia!
- Como você sabe o meu nome?
- Eu conheço sua mãe. Também sou amiga dela.
Júlia olhava fixamente para o balão. A mulher, por sua vez perguntou docemente:
- Você quer, Júlia?
A menina apenas sacudiu a cabeça acenando que sim. Neste momento Liliam viu que sua filha estava parada sozinha em frente a antiga mansão do Barão de Guaipi, do outro lado da rua. Ao vê-la, chamou por seu nome:
- Júlia! – a menina olhou – Vamos embora!
A mulher olhou para Júlia e disse:
- Vá até ela agora, mas volte. Estarei te esperando aqui.
A pequena atravessou a rua e pegou na mão de sua mãe que lhe entregou um grande algodão doce. As duas seguiam pra casa quando Júlia olhou pra trás, a mulher ainda estava ali, parada com um sorriso lhe acenando um tchau.

sábado, 23 de outubro de 2010

Pavor em Barão de Guaipi - Parte 1

Era uma noite de inverno, Thiago estava saindo de casa, pois não havia nada de interessante a se fazer por lá. Morava com os pais e sua irmã, Vanda, que embora a amasse não tinha muito assunto a conversar com ela. Não que eles estivessem brigados na verdade ele queria ter também um irmão. Ele precisava de alguém pra poder contar as coisas de menino, jogar bola, brincar de lutinha, essas coisas.
    Enfim, não exclusivamente naquela noite como em todas as outras, Thiago saía de casa pra conversar com a galera. Sempre que saía, voltava só depois das dez, seus pais já estavam até acostumados, já era rotina.
   Saindo no portão de casa, o vento gélido do rigoroso inverno daquele ano doía nos ossos, com uma intensidade de dois graus. Mas isso nunca era obstáculo pra galera de Thiago, sendo frio ou calor, eles estavam sempre lá, conversando, rindo, contando piadas, histórias de assombrações...
   Equipado com dois pares de meia, um moletom por dentro de seus jeans, uma camisa de malha com mangas compridas por baixo do grosso casaco de couro e na cabeça uma touca de lã que deixava a mostra apenas o bico de suas costeletas castanhas. Era tanta roupa que de um menino um tanto magrelo ficava parecendo que tinha uns cem quilos. Mas mesmo com o peso da roupa ele ía, até empolgado, pois sabia que iria ver Dayana, uma paixão secreta, um dos motivos que fazia Thiago percorrer quase um quilômetro todas as noites.
   O caminho da casa de Thiago até a rua Santa Amália, onde todos se reuniam, era bem tranquilo. Nunca houve nenhum caso em que pudesse preocupar os pais daquela vizinhança, era tudo muito calmo. Havia duas alternativas pra ele chegar ao sue destino: um caminho mais longo, que ele teria que cruzar todo um bairro vizinho; ou por um outro lado, que ele atravessaria apenas três quarteirões e depois andaria apenas em linha reta. Thiago escolhia sempre o mais curto, é claro.
   Depois de fazer todo o percurso, ele finalmente chegou no lugar. Era uma pracinha, muito movimentada durante o dia, mas a noite, eram só eles que ficavam por lá dando vida a ela. Chegando, lá já estavam Monique, Fernando, Rafael, Matheus, Flavia e Roger, todos sentados olhando Thiago com as bochechas até vermelhas de tanto frio.
   Ao chegar e comprimentar a todos, a primeira  coisa que lhe veio em mente foi a seguinte pergunta:
   - E a Liliam e  Dayana, elas não vêm? - Liliam era irmã de Dayana, e  quando uma delas não vinha a outra também não podia vir. Ao ouvir a pergunta, Roger foi quem se manifestou a responde-la:
   - Cara, eu também gostaria de saber. Eu estou tentando ligar pra Dayana o dia todo e nada de conseguir falar com ela. - Roger era namorado de Dayana, era por esse motivo que Thiago não podia falar  com ela sobre sua paixão secreta, era por respeito  a seu melhor amigo.
    - E então Flávia, fez bem a prova de hoje? - Perguntou Thiago
   - Acho que sim, só me confundi em uma questão mas acho que dá pra tirar um oito.
   - É oito é bom.
   - Se eu conseguisse tirar pelo menos cinco nessa prova, eu já tava era rindo à toa! - Diz Monique.
   - Por que? Você acha que não foi bem?
   - Que não fui bem? Eu não sabia nada!
   - Por que você não pede ao Rafael umas aulas particulares, ele é bom em física. - Disse Matheus
   Rafael logo se manifestou:
   - Pagamento antecipado!
   - Quanto você me cobra?
   - Lá em casa a gente conversa...
   - Seu bobo!
   Todos riram. A conversa se prolongou  por horas, conversaram, riram, cantaram, se divertiram bastante. Liliam e Dayane não vieram aquela noite, porque Liliam havia pêgo uma gripe, contudo Dayana não pôde sair também.
   A galera se despediu um dos outros e cada um foi para suas casas, que chegariam em quetão de cinco ou dez minutos. Menos Thiago que morava mais afastado de todos ali e tinha que andar todo aquele trajeto de volta.
   Voltando pra casa, ele percorreu toda a avenida, passou pelo primeiro quarteirão tranquilamente. Quando estava a caminho do segundo ouviu um rosnado a sua frente. Levou um baita susto, parou e não sabia o que fazer, havia perdido o controle de suas pernas, que só tremiam.
            O rosnado que ele ouviu foi de um cão, que talvez havia fugido de uma daquelas casas, mas o animal não era nem um pouco amigável e estava determinado a não deixar Thiago passar ali. Era um verdadeiro cão de guarda. E Thiago ali parado, pois ele sabia que se tentasse passar, o cachorro ia pega-lo e se pegasse ia fazer um estrago, pois o animal era bem grande e violento.
            Quando parou a tremedeira nas pernas, decidiu voltar e pegar o caminho mais longo. O único problema era que pra ele chegar em casa por esse caminho, ele tinha que voltar tudo o que ele já havia andado. Mas assim ele fez, pois não era nem louco de tentar passar por aquele bicho. Passou novamente pelo quarteirão, por toda avenida e chegou novamente na praça que desta vez estava as moscas.
            Passou direto e seguiu para a rua que daria acesso ao bairro de Íris cuja saída dava em uma rua próxima a sua casa. Atravessou cinco blocos de ruas virou a curva que dava em um pontezinha. Atravessou a ponte, andou por mais três ruas, virou novamente e entrou na rua Barão de Guaipi, que era exatamente no meio do bairro. A rua estava completamente deserta, escura, nem sequer um carro estacionado ali. Quando estava passando pela rua ouviu passos as suas costas. A principio ignorou, pois já estava impressionado com aquele cão. Mas a seguir sentiu como se fosse alguém assoprando em seu ouvido, isso foi a gota d’água, ficou desesperado e começou a correr sem olhar pra trás. Não gritava porque não havia fôlego pra isso. Foi quando viu uma mulher, parada em frente ao portão de uma casa, parecia até sua mãe mas essa tinha os cabelos loiros e usava uma roupa que nem aparentava ser da época. Ela usava um vestido de seda verde musgo, acompanhado por luvas, no pescoço um lindo colar de esmeraldas. A estranha mulher olhou para Thiago e disse:
            - O que foi?
            - Acho que tem alguma coisa me perseguindo!
            A mulher olhou fixamente em seus olhos e disse:
            - Vem comigo, entra aqui em casa que eu ligo para seus pais virem te buscar.
            No desespero, e mesmo sem conhecê-la, ele a acompanhou e passou pelo portão daquela casa.
            A casa era gigante, com inúmeras janelas e uma enorme porta no meio. Thiago tentou tocar na mulher mas ela se virou e disse:
            - Não se preocupe, isso vai acabar logo.
Thiago confiou em suas palavras e a acompanhou para dentro daquela casa.
            O dia amanheceu, Thiago não havia chegado. Seus pais se desesperaram, contataram a policia mas nada adiantou. O pobre menino havia sumido e não havia nenhuma pista de onde ele poderia estar. A única coisas que seus amigos viam a respeito de Thiago eram cartazes nas ruas com sua foto escrito embaixo: MENINO DE 16 ANOS DESAPARECIDO.

Pavor em Barão de Guaipi

Pra quem é fã de histórias que envolvem casas mal assombradas, essa história lhe fará se sentir dentro dela.