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domingo, 31 de outubro de 2010

Pavor em Barão de Guaipi - Parte 3

Liliam achou bem estranho ver a sua filha conversando sozinha, ela podia jurar que não havia ninguém ali com Júlia. Resolveu deixar pra lá, assim pensou: “Coisa de criança”.
Seguiu direto pra casa, não estava muito distante. Júlia também não mencionou nada a respeito daquela moça que havia visto, afinal achava que era normal estar falando com uma amiga de sua mãe. Liliam, por sua vez,  apenas observava sua pequena menina saborear aquele enorme algodão doce.
Ao entrar em casa, Júlia foi direto para a TV. Enquanto Liliam foi verificar o seu e-mail, afinal estava aguardando alguma resposta de Monique. Abriu sua caixa de entrada, e nada. “Talvez  Monique não tenha tempo nem de acessar a internet.” Pensou Liliam. Mas no fundo estava um pouco chateada com o fato de nunca mais conseguir falar com a velha amiga.
Verificou outros e-mails recebidos, e entre eles um a chamou a atenção. No título estava escrito: “Uma surpresa pra você!” ficou curiosa e abriu a mensagem. Nela estava escrito:
Minha querida amiga, Liliam
Sei que já faz um tempo, mas nunca me esqueci de você e nem de ninguém que fazia parte da galera. Gostaria muito de revê-los. Não posso lhe falar onde eu estive este tempo todo, mas posso lhe assegurar que estou muito bem. O que aconteceu naquela época já ficou apagado, assim acredito. Mas o trauma que sofri foi tão grande, que eu nunca tive coragem de voltar. Sempre mantive contato com os meus pais, pedi muito a eles para que não falassem a ninguém onde eu estava. Na verdade, eles sabiam o tempo todo que eu não estava desaparecido.
Soube que fará uma festa e quer reunir a galera toda de novo. Acho que seria uma ótima oportunidade de eu fazer uma surpresa a todos. Contar todas as coisas que fiz durante todo esse tempo.
Tenho também uma proposta a lhe fazer. Você se lembra da casa antiga do Barão de Guaipi? Aquela no bairro Íris. Então, sou proprietário de lá agora. Estarei na cidade no sábado para estar tratando de negócios. A casa está em perfeito estado, por incrível que pareça. Precisa de algumas reformas, muito poucas, embora seja uma casa bastante antiga, ela está bem conservada. Gostaria de lhe propor que faça a sua festa lá. Tem bastante espaço e a galera ia adorar. Sem contar que não posso ficar circulando muito pelas ruas aí, afinal, ainda sou aquele garoto desaparecido de 16 anos. Por isso pretendo aparecer somente na festa. Não comente nada com ninguém sobre mim, vou surpreender a todos. Vou mandar destrancarem os cadeados e portas no sábado de manhã para que você possa estar arrumando o local do seu jeito. Não conseguirei chegar antes das 22hs, a viagem é bem longa, mas estarei lá para a festa.
Um grande abraço de seu velho amigo,
Thiago
Quando acabou de ler, Liliam ficou chocada, parada em frente ao computador sem ação. Não sabia se ficava feliz por ter recebido notícias do amigo ou se ficava com raiva dele não ter dado notícias durante todo esse tempo, sua cabeça estava bastante confusa. Além disso, os preparativos de sua festa já estavam todos concluídos e mudar o local da festa estava fora de cogitação, até o momento.
Por outro lado, a emoção de saber de Thiago era  bem agradável e Liliam já conseguia sentir uma pontinha de ansiedade de ver como ele estava. Queria saber se estava mais gordo, mais magro, mais alto, se estava casado, se tinha filhos...
Fechou seu e-mail e foi tomar um banho, enquanto Júlia se divertia assistindo a um canal infantil da TV a cabo:
- Mamãe vai tomar um banho. Fique aqui quietinha, tá?
Júlia nem olhou, continuou vidrada com os bonequinhos que cantavam e dançavam na tela da televisão. Apenas acenou que sim.
Liliam sorriu, achou engraçadinho ver sua bonequinha tão distraída cantando e dançando junto da turminha que via na TV. Saiu de lá, foi para o quarto pegar suas roupas e se direcionou ao banheiro. Ao passar novamente pela sala, viu que sua filha não estava mais lá.
Procurou pela casa chamando pelo nome da menina, mas não havia resposta. Atravessou a sala e foi para a cozinha, foi quando viu Júlia na porta dos fundos falando com alguém pelo vidro da porta:
- Sim .... Tenho sete... É ... Ahã ...
- Com quem você está falando meu bem?
Júlia se virou e respondeu normalmente:
- Com ela, mamãe!
Mas quando a menina se virou para mostrar com quem ela estava falando, a pessoa que estava ali havia sumido. Júlia voltou novamente para sua mãe com um olhar meio que triste:
- Ela foi embora.
- Quem foi embora querida? Não tinha ninguém na porta.
- Tinha sim, mãe! Aquela moça que estava falando comigo quando fomos comprar algodão doce, lembra?
- Meu amor, você não estava falando com ninguém.
- Estava, mãe! Ela disse que era até sua amiga!
- Bom, chega de brincadeiras!
- Mas eu não to brincando!
- Está sim, não pode ficar fantasiando coisas o tempo todo, minha flor.
- Mas...
- Já chega! Volte para o sofá e não saia mais de lá até eu sair do banho.
Júlia foi para a sala meio chateada com sua mãe por ela não ter acreditado no que havia falado. Mas Liliam sabia que nessas horas tinha que ser um pouco dura, pois se alimentasse isso em Júlia não saberia quando isso iria parar. Quando viu sua filha falando sozinha da primeira vez, achou até normal. Mas agora, sabia que era algo que teria que acabar.
Liliam apagou as luzes da cozinha e foi para o banho. Enquanto saía, a figura da mulher apareceu no vidro da porta observando-a.  Ela a fitava com certo olhar misterioso que misturava ironia e ódio. Poucos instantes depois, a mulher desapareceu deixando a vista apenas o gramado do quintal dos fundos.
No banho Liliam pensava no que havia acabado de acontecer: “E se Júlia realmente estivesse conversando com alguém? Alguém que apenas ela pudesse ver?” Estava um pouco insegura em relação a isso, pois se a menina estivesse realmente falando com fantasmas, não saberia que atitude deveria ser tomada e nem a quem recorrer para pedir ajuda.
Pensava também em Thiago, não seria tão difícil se aceitasse a sua proposta e do mais todos iriam se amarrar em ir a uma festa em uma velha mansão luxuosa. Portanto seria um assunto a ser repensado quando estivesse com a cabeça mais fresca.

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