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sábado, 23 de outubro de 2010

Pavor em Barão de Guaipi - Parte 1

Era uma noite de inverno, Thiago estava saindo de casa, pois não havia nada de interessante a se fazer por lá. Morava com os pais e sua irmã, Vanda, que embora a amasse não tinha muito assunto a conversar com ela. Não que eles estivessem brigados na verdade ele queria ter também um irmão. Ele precisava de alguém pra poder contar as coisas de menino, jogar bola, brincar de lutinha, essas coisas.
    Enfim, não exclusivamente naquela noite como em todas as outras, Thiago saía de casa pra conversar com a galera. Sempre que saía, voltava só depois das dez, seus pais já estavam até acostumados, já era rotina.
   Saindo no portão de casa, o vento gélido do rigoroso inverno daquele ano doía nos ossos, com uma intensidade de dois graus. Mas isso nunca era obstáculo pra galera de Thiago, sendo frio ou calor, eles estavam sempre lá, conversando, rindo, contando piadas, histórias de assombrações...
   Equipado com dois pares de meia, um moletom por dentro de seus jeans, uma camisa de malha com mangas compridas por baixo do grosso casaco de couro e na cabeça uma touca de lã que deixava a mostra apenas o bico de suas costeletas castanhas. Era tanta roupa que de um menino um tanto magrelo ficava parecendo que tinha uns cem quilos. Mas mesmo com o peso da roupa ele ía, até empolgado, pois sabia que iria ver Dayana, uma paixão secreta, um dos motivos que fazia Thiago percorrer quase um quilômetro todas as noites.
   O caminho da casa de Thiago até a rua Santa Amália, onde todos se reuniam, era bem tranquilo. Nunca houve nenhum caso em que pudesse preocupar os pais daquela vizinhança, era tudo muito calmo. Havia duas alternativas pra ele chegar ao sue destino: um caminho mais longo, que ele teria que cruzar todo um bairro vizinho; ou por um outro lado, que ele atravessaria apenas três quarteirões e depois andaria apenas em linha reta. Thiago escolhia sempre o mais curto, é claro.
   Depois de fazer todo o percurso, ele finalmente chegou no lugar. Era uma pracinha, muito movimentada durante o dia, mas a noite, eram só eles que ficavam por lá dando vida a ela. Chegando, lá já estavam Monique, Fernando, Rafael, Matheus, Flavia e Roger, todos sentados olhando Thiago com as bochechas até vermelhas de tanto frio.
   Ao chegar e comprimentar a todos, a primeira  coisa que lhe veio em mente foi a seguinte pergunta:
   - E a Liliam e  Dayana, elas não vêm? - Liliam era irmã de Dayana, e  quando uma delas não vinha a outra também não podia vir. Ao ouvir a pergunta, Roger foi quem se manifestou a responde-la:
   - Cara, eu também gostaria de saber. Eu estou tentando ligar pra Dayana o dia todo e nada de conseguir falar com ela. - Roger era namorado de Dayana, era por esse motivo que Thiago não podia falar  com ela sobre sua paixão secreta, era por respeito  a seu melhor amigo.
    - E então Flávia, fez bem a prova de hoje? - Perguntou Thiago
   - Acho que sim, só me confundi em uma questão mas acho que dá pra tirar um oito.
   - É oito é bom.
   - Se eu conseguisse tirar pelo menos cinco nessa prova, eu já tava era rindo à toa! - Diz Monique.
   - Por que? Você acha que não foi bem?
   - Que não fui bem? Eu não sabia nada!
   - Por que você não pede ao Rafael umas aulas particulares, ele é bom em física. - Disse Matheus
   Rafael logo se manifestou:
   - Pagamento antecipado!
   - Quanto você me cobra?
   - Lá em casa a gente conversa...
   - Seu bobo!
   Todos riram. A conversa se prolongou  por horas, conversaram, riram, cantaram, se divertiram bastante. Liliam e Dayane não vieram aquela noite, porque Liliam havia pêgo uma gripe, contudo Dayana não pôde sair também.
   A galera se despediu um dos outros e cada um foi para suas casas, que chegariam em quetão de cinco ou dez minutos. Menos Thiago que morava mais afastado de todos ali e tinha que andar todo aquele trajeto de volta.
   Voltando pra casa, ele percorreu toda a avenida, passou pelo primeiro quarteirão tranquilamente. Quando estava a caminho do segundo ouviu um rosnado a sua frente. Levou um baita susto, parou e não sabia o que fazer, havia perdido o controle de suas pernas, que só tremiam.
            O rosnado que ele ouviu foi de um cão, que talvez havia fugido de uma daquelas casas, mas o animal não era nem um pouco amigável e estava determinado a não deixar Thiago passar ali. Era um verdadeiro cão de guarda. E Thiago ali parado, pois ele sabia que se tentasse passar, o cachorro ia pega-lo e se pegasse ia fazer um estrago, pois o animal era bem grande e violento.
            Quando parou a tremedeira nas pernas, decidiu voltar e pegar o caminho mais longo. O único problema era que pra ele chegar em casa por esse caminho, ele tinha que voltar tudo o que ele já havia andado. Mas assim ele fez, pois não era nem louco de tentar passar por aquele bicho. Passou novamente pelo quarteirão, por toda avenida e chegou novamente na praça que desta vez estava as moscas.
            Passou direto e seguiu para a rua que daria acesso ao bairro de Íris cuja saída dava em uma rua próxima a sua casa. Atravessou cinco blocos de ruas virou a curva que dava em um pontezinha. Atravessou a ponte, andou por mais três ruas, virou novamente e entrou na rua Barão de Guaipi, que era exatamente no meio do bairro. A rua estava completamente deserta, escura, nem sequer um carro estacionado ali. Quando estava passando pela rua ouviu passos as suas costas. A principio ignorou, pois já estava impressionado com aquele cão. Mas a seguir sentiu como se fosse alguém assoprando em seu ouvido, isso foi a gota d’água, ficou desesperado e começou a correr sem olhar pra trás. Não gritava porque não havia fôlego pra isso. Foi quando viu uma mulher, parada em frente ao portão de uma casa, parecia até sua mãe mas essa tinha os cabelos loiros e usava uma roupa que nem aparentava ser da época. Ela usava um vestido de seda verde musgo, acompanhado por luvas, no pescoço um lindo colar de esmeraldas. A estranha mulher olhou para Thiago e disse:
            - O que foi?
            - Acho que tem alguma coisa me perseguindo!
            A mulher olhou fixamente em seus olhos e disse:
            - Vem comigo, entra aqui em casa que eu ligo para seus pais virem te buscar.
            No desespero, e mesmo sem conhecê-la, ele a acompanhou e passou pelo portão daquela casa.
            A casa era gigante, com inúmeras janelas e uma enorme porta no meio. Thiago tentou tocar na mulher mas ela se virou e disse:
            - Não se preocupe, isso vai acabar logo.
Thiago confiou em suas palavras e a acompanhou para dentro daquela casa.
            O dia amanheceu, Thiago não havia chegado. Seus pais se desesperaram, contataram a policia mas nada adiantou. O pobre menino havia sumido e não havia nenhuma pista de onde ele poderia estar. A única coisas que seus amigos viam a respeito de Thiago eram cartazes nas ruas com sua foto escrito embaixo: MENINO DE 16 ANOS DESAPARECIDO.

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